sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Chá literando-Cordel Ano Novo


As mudanças no mundo com o Feliz Ano Novo



--- Walter Medeiros



Nesta hora de mudança

Cheio de boa intenção

Aproveito a ocasião

Para trazer a lembrança,

Com toda contemplação,

Da capital ao sertão,

Desde os dias de criança.



Lembrança do Ano Novo,

Coisas de admirar,

Cada um vai se lembrar,

Se esquecer eu resolvo;

Mas vamos rememorar

Histórias de arrepiar

Na vida do nosso povo.



Não precisa voltar tanto,

Fico no ano passado

Quando era comemorado

Feliz ano em qualquer canto;

Cada um compenetrado

Prometia estar mudado

Mas é mesmo um espanto.



O ano está terminado

E não consigo encontrar -

É algo de admirar -

O que foi apalavrado;

Pois prometeram mudar

E tudo de novo está

Sem nadinha ter mudado.



Alguém marcou a dieta

Para deixar de engordar

Mas foi mesmo se esbaldar

Comer é que foi a meta

Pança cheia lá e cá

Agora quer renovar

Promessa tão indiscreta.



O outro quis caminhar

E disso eu não duvido

Mas ficou tão envolvido

Que não conseguiu andar

Passou o ano esquecido

Do que tinha prometido

E agora quer melhorar.



Teve até quem prometesse

Evitar briga em família

Mas se fizesse planilha

Talvez se arrependesse

Pois até por uma ervilha

Que não vale uma novilha

Brigou mesmo um dia desse.



Quem prometeu ir à missa

E não conseguiu cumprir

Está de novo a sentir

Que não pode ser noviça

Não dá mesmo pra seguir

O que tentou para si

Pois teve muita preguiça.



A visita aos amigos

Foi outra grande promessa

Que nunca mereceu pressa

Imagine os abrigos

Sempre se desinteressa

E fica triste à beça

Não ajuda nem mendigo.



E os estudos, então,

Seria bom nem falar

Mas temos que encarar

Pois não é bicho papão

Agora para mudar

Tem mesmo que renovar

A promessa no ano bom.



Quem não consegue ficar

Com as coisas arrumadas

Enfrenta uma parada

Mas tem de continuar

Termina o ano e nada

Parece uma piada

Que se evita contar.



Políticos nem se fala

Tem muitos sem concorrência

De mentira e incompetência

Corrução, muito canalha,

Acenam para a decência

Mas não têm consciência

E a robalheira se espalha.



Mas como eu tenho fé

Continuo esperando

Ano novo tá chegando

Você sabe como é

Todo mundo renovando

Os votos, Deus sabe quando

Irão deixar de Migué.



Parece que esse momento

Traz algo misterioso

Quem é ruim fica bondoso

Sem precisar de argumento;

Até mesmo o mau esposo

Deixa tudo curioso

Mudando tal qual o vento.



É algo contagiante

Para propagar o bem

Pois não escapa ninguém

Melhora até meliante

Quem segura até vintém

Entra na lista também

Pois se torna bom pagante.



Até mesmo as criancinhas

Embarcam nessa parada

Prometem não fazer nada

Que aborreça a mãezinha

Depois da data passada

Volta a dar botinada

Até dentro da igrejinha.



Também pelos hospitais

As mudanças aparecem

Pois os doentes merecem

Atenção e tudo mais

Depois alguns se esquecem

As atitudes fenecem

Parecem todos iguais.



No abrigo dos velhinhos,

Se chega até rapaz

Mostrando que é capaz

De um gesto de carinho

Dá uma ajuda fugaz

E não aprece mais

Pelo ano inteirinho.



Por isso estou refletindo

Sobre tal situação

É de cortar coração

Ver tanta gente mentindo

Mas vale toda emoção

Só precisa de uma mão

Prá continuar servindo.



E de tanto prometer

Não deixo de registrar

Quem quer parar de fumar

Ou quer parar de beber

Pois é só se apresentar

Em um grupo de A.A.

Ou conseguir se conter.



Enfim quero apelar

Para que cada promessa

Seja verdadeira peça

Prá verdade exercitar;

Que a tudo a gente meça

Vendo o que interessa

Que é o bem se plantar.



Que no novo ano novo

Só se fale a verdade

Com justiça e caridade

Todo bem eu sempre louvo;

Cheio de dignidade

Que se plante a bondade

Para ajudar nosso povo.



Que a gente fique em paz

Sem fuxico e falatório

Não vá a nenhum velório

E que ninguém morra mais;

Tenha sempre adjutório

Valha-me Santo Ligório

Pois eu não peço demais.



Nada é fácil nessa vida

Mas vamos perseverar

Pois desejo conquistar

A confiança perdida

Prá esse mundo mudar

E o ser humano encontrar

Felicidade na lida.



Falei demais, alguém diz,

Agora vou encerrar

Mas antes vou desejar

Algo que eu sempre quis;

Quando o dia raiar

Cada um vai encontrar

Um Ano Novo feliz.



FIM

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poesia Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade






Receita de ano novo



Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)



Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.



Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

poesia

Rosas







Rosas que já vos fostes, desfolhadas
Por mãos também que Já foram, rosas
Suaves e tristes! Rosas que as amadas,
Mortas também, beijaram suspirosas...

Umas rubras e vãs, outras fanadas,
Mas cheias do calor das amorosas...
Sois aroma de almofadas silenciosas,
Onde dormiram tranças destrançadas.

Umas brancas, da cor das pobres freiras,
Outras cheias de viço de frescura,
Rosas primeiras, rosas derradeiras!

Ai! Quem melhor que vós, se a dor perdura,
Para coroar-me, rosas passageiras,
O sonho que se esvai na desventura ?